terça-feira, 28 de outubro de 2008

2ª Fase - 5ª Rodada - Fortaleza 0x4 Grêmio

Foto: Edson Pio (O Povo)






“GRÊMIO GOLEOU NOS ÚLTIMOS 26 MINUTOS
No primeiro tempo, o time errou nas conclusões 
Depois da entrada de Héber, a vitória surgiu 

O Grêmio aumentou ainda mais as suas chances de classificação à próxima fase da Taça de Ouro depois de vencer ao Fortaleza por 4 a O sábado à noite, na capital cearense. Mas o resultado pode até ser considerado exagerado pelo que foi a partida em seus 90 minutos. Somente nos últimos 15 minutos de jogo — depois que Héber, o melhor, estava em campo — o time de Ênio Andrade mostrou um futebol de acordo com a goleada. Agora o clube fica à espera do resultado entre São Paulo e Inter de Limeira quarta-feira à noite no Morumbi, para definir suas possibilidades para o último jogo, contra a Inter, no próximo domingo, no Olimpico. 

A exemplo do que havia acontecido contra o São Paulo, a partida contra o Fortaleza serviu para mudar a formação do time titular do Grêmio. Ênio Andrade depois do jogo já confirmava Héber como o novo centroavante, merecidamente, pois foi ele na verdade o principal responsável pela goleada da equipe [...], criou suas próprias dificuldades e teve sorte de também resolvê-las. 

Animados pelo "bicho extra'' da Inter de Limeira, os jogadores do Fortaleza mostraram muita movimentação enquanto tiveram condição física para tanto e boas jogadas na meia-cancha e no ataque. Mas o Grêmio já poderia ter definido o jogo logo nos primeiros minutos aproveitando-se das deficiências do setor defensivo da equipe cearense. A oito minutos, por exemplo, Baltazar entrou livre pela esquerda mas não chutou, nem passou, só cruzou para ninguém. Logo em seguida o Fortaleza teve urna de suas grandes oportunidades. Numa jogada de Odilon pela esquerda Tiquinho chutou mal, por cima, sozinho dentro da área. 

O primeiro tempo foi assim: o Grêmio perdia gols Incríveis e permitia a reação do Fortaleza, que chegou a dominar em muitos momentos. Aos 11 minutos Baltazar, depois de receber passe de China,   [...]  de todos os atacantes gremistas errarem em diversas conclusões. Mazolinha obrigou Leão a fazer uma difícil   Aos 35 Odair, sozinho pela esquerda, chutou para fora. Um minuto depois Sérgio defendeu uma cabeçada de Baltazar que em seguida perdeu o gol mais incrível: depois de tirar a bola do último zagueiro ele avançou livre para o gol, tentou driblar e perdeu a bola para Sérgio. 

Outro gol perdido por Baltazar, logo primeiros minutos do segundo tempo, definiu sua substituição por Héber, que no primeiro chute a gol conseguiu marcar- O Fortaleza tentou reagir mas o Grêmio estava melhor posicionado e mais confiante. E nos últimos 26 minutos surgiu a goleada. Os três gols de Isidoro saíram ao natural diante do limitado preparo físico do adversário e das excelente jogadas criadas por Héber: a solução de Ênio para uma equipe que estranhamente tinha sido mais cautelosa e mais nervosa do que o [...]

 

Placar

HEBER aos 16 minutos do segundo tempo: 1 a 0 para o Grêmio — De Léon avançou pela esquerda e deu para Héber na entrada da área. Ele devolveu para o zagueiro, correu para a direita, recebeu e chutou de pé direito bem no canto direito do gol de Sérgio.
 
PAULO ISIDORO aos 88 minutos do segundo tempo: 2 a 0 para o Grêmio — Tarciso foi até a linha de fundo e cruzou na medida para Héber que tentou deslocar de cabeça ao goleiro. Sérgio defendeu parcialmente, e Isidoro, sozinho, de cima, apenas concluiu para dentro.

PAULO ISIDORO aos 40 minutos do segundo tempo: 3 a 0 para o Grêmio — Héber dominou a bola na esquerda, carregou pelo meio em direção à direita. Deu para Tarciso, recebeu, entrou na área sem ângulo e tocou de calcanhar direito exatamente onde estava Isidoro que chutou para cima, com força

PAULO ISIDORO aos 45 minutos do segundo tempo: 4 a 0 para o Grêmio — Héber deu para Casemiro, que entrava livre pelo lado esquerdo. O lateral tocou para Isidoro que depois de dominar de costas para o gol tentou encobrir o goleiro. Sérgio defendeu parcialmente e próprio, Isidoro foi concluir junto com Tarciso.” (Zero Hora, segunda-feira, 30 de março de 1981)




“ÊNIO COM ESPERANÇA: - PRECISAMOS GARANTIR A CLASSIFICAÇÃO
No intervalo em Fortaleza ele chamou a atenção dos jogadores que não cumpriam com suas orientações 

No intervalo do jogo contra o Fortaleza, depois de um primeiro tempo de muitos erros e até certo nervosismo por parte da maioria dos jogadores do Grêmio, o técnico Ênio Andrade teve que repreender o time todo pelas falhas apresentadas em 45 minutos. Depois, a equipe voltou ao campo, goleou o adversário e todos os jogadores admitiram que a conversa cio vestiário teve grande influência no comportamento do time: 

— Eu não sei o que estava acontecendo — revelou Ênio Andrade. Porque se nós treinamos uma semana inteira um determinado tipo de marcação, era surpreendente que o Grêmio deixasse o adversário jogar livre, e que marcassem linha. E foi sobre isso que conversamos no vestiário, acertando detalhes e relembrando ó que ensaiamos tantas vezes no Estádio Olímpico. 

No segundo tempo, já com os principais defeitos corrigidos, "o Grêmio chegou à vitória com toda a naturalidade porque marcou corretamente". Para isso, no entanto, foi preciso ainda outra modificação — a substituição de Baltazar por Heber que, segundo Ênio Andrade, "deu ao time mais condição para, a tabela com os meias. Ele mereceu agora ficar com a posição de titular e inicia o jogo contra o Inter de Limeira". 

— O problema é que o Grêmio possui o goleador do Brasil em 1980, o Baltazar, e tinha que lhe dar uma oportunidade de se recuperar em campo. Mas o Heber entrou bem, deu condição para que o meio-campo jogasse mais e provou também no campo que pode ser titular". 

Para vencer o Fortaleza, Ênio Andrade teve que corrigir não apenas a disposição tática da equipe mas ainda orientar alguns jogadores para erros Importantes que estavam cometendo. Por exemplo: Ênio disse que Tarciso estava entrando em diagonal, o que diminuía o espaço de Paulo Isidoro; que Odair é orientado para receber lançamentos e estava voltando para buscar o jogo; e que De León estava jogando em linha com o Newmar, criando sérias dificuldades defensivas: 

— O importante — disse Ênio — é que conseguimos superar tudo no segundo tempo, chegando a uma goleada com naturalidade, sem exageros. Agora, precisamos garantir a classificação." (Zero Hora, segunda-feira, 30 de março de 1981)





ELOGIOS

O melhor na situação de Héber é que não foi apenas o técnico Ênio Andrade que admitiu sua superioridade em relação a Baltazar no momento — ou, pelo menos, o fato de que ele é mais útil à equipe do que o ex-titular. 

No intervalo do jogo, o ponteiro direito Tarciso dizia que "no momento em que todos os jogadores soltarem a bola, o time marca os gols", referindo-se evidentemente a Baltazar, que raramente procura a tabela ou o passe com um companheiro. 

A opinião de Tarciso acabou confirmada no segundo tempo porque Héber é realmente mais habilidoso e solidário do que Baltazar, faz bons passes e prepara muito bem as jogadas para os jogadores que estão chegando na área. Tanto que os dois meias da equipe. Paulo Isidoro e Wilson Tadei fizeram muitos elogios ao novo centroavante, sempre ressaltando sua capacidade de colocar outros jogadores em boa situação para a conclusão. 

— Quando entrou o Héber — disse Tadei — houve maior variedade de jogadas porque ele sabe segurar jogo, mesmo de costas para o adversário, até que alguém se aproxime para o passe. Isso não quer dizer que o Baltazar não mereça também elogios. É apenas uma questão de estilo: enquanto o Baltazar prefere jogar mais fixo na área, o Héber se movimenta mais para os lados, recebe e devolve em boas condições. 

Paulo Isidoro também concordou que a diferença básica entre Baltazar e Heber, é a característica de cada um. "O Baltazar já garantiu muitas vitórias difíceis e isso ninguém pode negar. Mas o Héber sabe preparar a jogada, ele joga com a mente e a prova disso foi aquele passe para o nosso segundo gol, em que ele deixou a bola parada para que eu chutasse sem marcação de ninguém. Agora problema é do treinador e ele vai saber escolher o melhor para o Grêmio." (Zero Hora, segunda-feira, 30 de março de 1981)





“OPINIÃO: O gás do Fortaleza só deu para um tempo, no segundo, o Grêmio deslanchou” (Luciano, Luque, Revista Placar, Edição n.º 568 – 3 de abril de 1981)













Antônio Goulart  -   “O PODER DAS GOLEADAS

Sem dúvida, a grande revelação do Grêmio em Fortaleza foi Héber, tanto que garantiu sua escalação para o próximo jogo, no lugar de um goleador titular que vinha perdendo muitos gols. A substituição não significa, porém, que todos os problemas do time de Ênio Andrade estejam resolvidos. Aquela vitória não pode ser tornada como reflexo de uma plena recuperação. Um jogador sozinho não salva uma equipe. Bem marcado, pode frustrar muita gente. E o técnico da Inter de Limeira, a esta altura, já deve estar sabendo de quase tudo e virá ao Olímpico, no final da semana, preparado para tentai anular a nova arma do ataque tricolor.

O banco de reserva deverá, de Início, ser um pouco constrangedor para Baltazar. Mas, com certeza, irá lhe fazer bem. No meu modo de ver, dois fatores contribuíram para que o centroavante do Grêmio diminuísse o seu rendimento em campo. Em primeiro lugar, o casamento que, como é natural, alterou sensivelmente sistema de vida do jogador, sua rotina do dia-a-dia, antes dedicada quase que integralmente ao clube. Em segundo lugar, talvez com maior influência, foi o fato de Baltazar não ter, até há pouco, um reserva especialista da posição. A quase certeza de que a camisa 9 não poderia ser dada a outro, nem em treinos e muito menos nos jogos, é provável que o tenha levado a abandonar a preocupação permanente de brigar por ela.

Agora, com Héber na sombra, Baltazar deverá se empenhar com muito mais vontade. E poderá recuperar a posição, não por forca apenas do seu prestígio ou de suas estatísticas de goleador, mas jogando futebol.” (Antônio Goulart, Correio do Povo, 31 de março de 1981)




Paulo Santana – “HÉBER, O FEÉRICO 

Se Baltazar era o iluminado, Héber pode vir a ser o Feérico. Iluminado é o que tem luz. Feérico é o que tem e dá luz. Vou explicar, sem querer bancar o sábio, o que as pessoas que entendem de futebol não precisavam ver assim repetido: o melhor centroavante não é o que faz mais gols; o melhor centroavante é aquele que permite que seu time faça mais gols; ou ainda, o melhor centroavante é aquele que erra menos gols. Todo mundo que é inteligente e entende de futebol não duvida dessas verdades. O diabo é que existem pessoas inteligentes que não entendem de futebol, que exercitam suas funções em torno do futebol porque à época havia vagas, elas se meteram no negócio e vão levando, às vezes até com êxito. Só que chega na hora de opinar sobre o básico, erram feio e nunca vão deixar de errar. Mas aprendam por favor enquanto aqueles que entendem de futebol estão vivos: o melhor, centroavante é o que colabora para que seus companheiros, lógico que também ele próprio, façam mais gols. Foi por isso que o Héber se consagrou em Fortaleza: teve 20 minutos de atuação que o Baltazar jamais alcançou em seus dois anos de Grêmio. Ou seja, participou de todos os quatros gols do Grêmio. Enquanto que o Baltazar, grande goleador do ano passado, só participa dos gols dele. Se vocês acham que estou sendo severo nesta análise, pois vou dar a palavra a um jogador do Grêmio que estava em campo, sábado em Fortaleza. Vejamos o que Tarciso disse no intervalo, depois que Baltazar aterrorizou todo mundo ao errar quatro gols feitos. Fala, Tarciso: "Não tem explicação os gols que erramos. Se nós nos conscientizássemos, na hora da conclusão, de que existe um companheiro melhor colocado para fazer o gol, se nós passássemos a bola para esse companheiro, nós não perderíamos tantos gols". Isso foi o que Tarciso disse na Rádio Gaúcha. Não sou eu que estou inventando. Só quero, embora o Tarciso não pudesse ser mais claro, lembrar o que sempre escrevi e falei sobre Baltazar, desde que o vi jogar pela primeira vez, unindo ao que disse Tarciso: "Baltazar é cristão fora do campo. No campo ele não é cristão. Se fosse, passaria a bola para seus companheiros". Não se trata de criticar Baltazar, até mesmo porque ele só tem 21 anos e um dia pode possuir a felicidade de topar com um treinador que pense como este comentarista, que o corrigirá. Mas se trata, isso sim, de deixar bem claro agora, para que os preenchedores de vagas não mais incomodem, é que Héber oxigenou o time do Grêmio, Héber não só fez o gol, não só participou dos outros três, como também solta a bola para os colegas, solta e vai colocar-se, tem sentido de coletivismo. E Héber tem uma vantagem sobre Baltazar que André também tinha: Héber tem quatro ferramentas, enquanto Baltazar tem só uma. Vejam as quatro de Héber, pelo que se viu sábado: pé direito, pé esquerdo, cabeça e calcanhar. Baltazar só tem o pé direito. Então o Ênio Andrade está com a razão: Héber é o novo centroavante titular do Grêmio. Héber, o Feérico. 

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 Com Vitor Hugo de libero, de grande líder, no dizer dos que gostam dele como libero e líder, o Grêmio perdeu de 3 a 0 para o 15 de Novembro em 79 e foi desclassificado do campeonato nacional; em 80, com o Vitor Hugo, o Grêmio perdeu de 5 a 0 para o Corinthians, sendo desclassificado; em 81, com Vítor Hugo, o Palmeiras levou 6 a 0 Internacional e está quase desclassificado. Esta crônica não é contra Vitor Hugo. Ela apenas quer que as viúvas do Vítor Hugo, as que tentaram envenenar a torcida do Grêmio ao dizer que Vítor Hugo estava fazendo falta, nunca mais voltem a falar nesta barbaridade. Calem-se sempre. Vocês estão se queimando com o público. Que libero é este?"  (Paulo Santana, Zero Hora, segunda-feira, 30 de março de 1981)



 


Antônio Goulart  - “PONTARIA E MARCAÇÃO


Não sei se foi intuição retardada ou consequência de sobra de tempo para treinamentos. A verdade é que tolo Andrade começou ontem a tentativa de correção de dois pontos fracos de sua equipe: chutes a gol e marcação individual em todo o campo. O Grémio vem-se caracterizando, ultimamente, como um time perdedor de gols feitos; a exceção foram os 26 minutos finais contra o Fortaleza. Por isso, o técnico tratou de exercitar a pontaria de seus atacantes, com bolas cruzadas de todos os lados, a qualquer distância, para finalizações, tanto com o pé direito como com o esquerdo e de cabeça. E o tipo de treino que deveria ser feito todos os dias. Garanto que os resultados seriam bem diferentes.

 

O Grêmio de agora também vem mostrando que a marcação, fora do quinteto defensivo, não é o seu ponto forte. Pois ontem Ênio Andrade chamou a atenção de sua meia-cancha e deu uma nova tarefa aos jogadores do setor: marcar o adversário no campo todo. Sob este aspecto, houve um recado especial para Vilson Tadei. O próprio técnico reconhece que é preciso que todos os jogadores, os atacantes também, se acostumem com a tarefa de marcar.” (Antônio Goulart, Correio do Povo, 2 de abril de 1981)



Fortaleza 0x4 Grêmio


FORTALEZA: Sérgio; Totó, Marcão (Roberto, intervalo), Rôner e Dudé; Chinesinho (Beto, 20 do 2º), Odilon e Adriano; Mazolinha, Rogério e Tiquinho.
Técnico: Martins Monteiro (interino)

GRÊMIO: Leão; Paulo Roberto, Newmar, De León e Casemiro; China, Paulo Isidoro e Vílson Tadei; Tarciso, Baltazar (Heber 10 do 2ºT) e Odair.
Técnico: Ênio Andrade

Brasileirão 1981 – 2ª Fase – 5ª Rodada
Data: 28/03/1981, Sábado, 21h00min
Local: Castelão, em Fortaleza – CE
Público: 1.628
Renda: Cr$ 165.250,00
Juiz: José Roberto Wright (RJ)
Auxiliares: Antonio Carminha e Artur Braz
Cartão Amarelo: Marcão
Gols: Éber aos 15, Paulo Isidoro aos 40, 42  44 minutos do 2ºtempo

 

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