terça-feira, 28 de outubro de 2008

2ª Fase - 2ª Rodada - Grêmio 2 x 0 Fortaleza


Foto: Zero Hora


Foto: Zero Hora

GRÊMIO SUPERA O FORTALEZA MAS A TORCIDA NÃO GOSTA
Apesar da vitória, o time do Olímpico, nervoso, mostrou muitos erros

O Grêmio venceu ao Fortaleza sem entusiasmar sua torcida no Estádio Olímpico. Com um gol de Newmar no primeiro tempo e Baltazar no início do segundo, o time de Ênio Andrade conseguiu assim assumir a vice-liderança do Grupo. Está ao lado do Internacional de Limeira contra quem joga domingo próximo, mas ganha o confronto por ter uma vitória enquanto o time paulista tem dois empates. O 2 a 0 não satisfez os torcedores e alguns jogadores inclusive reclamaram.

A vitória do Grêmio satisfez os otimistas e pessimistas. Os otimistas porque somente uma equipe teve iniciativa, apresentou um trabalho coletivo aceitável e construiu excelentes oportunidades de gol. Os pessimistas porque foi o Grêmio também que continuou mostrando problemas individuais ¡á conhecidos como a pouca objetividade de Odair e Renato Sá — sem falar em suas dificuldades para concluir com perigo — e a má fase de Baltazar que chegou a irritar a torcida com seus impedimentos sucessivos e gols perdidos.

Por isso junto com os aplausos ao final do primeiro tempo podiam ser ouvidas vaias que voltaram durante o segundo tempo ¡unto com os pedidos de alguns torcedores por Heber. Mas foi Baltazar o primeiro a levantar a torcida quando fez um gol, anulado, aos 10 minutos de jogo por causa de uma falta no goleiro. Não demorou muito para Newmar fazer o seu e tranqüilizar mais a torcida. Mas quem não mostrou tranqüilidade foi o time do Grêmio.

Mesmo enfrentando uma equipe fraca, com preparo físico deficiente e praticamente sem ataque — o Fortaleza só teve mesmo o ponteiro Mazola a tentar algo — o Grêmio mostrou muito nervosismo nas conclusões perdendo grandes situações de gol. Aos 27 por exemplo Baltazar perdeu de cima ao chutar no travessão uma cruzada de Tarciso. Na seqüência Renato Sá chutou para fora.

O segundo tempo iniciou bem, com um gol de Baltazar, logo a três minutos e o Grêmio seguiu dominando, criando boas situações de gol mas a repetição dos erros nas conclusões fez com que o resultado permanecesse o mesmo. Baltazar foi substituído por Heber e saiu bastante vaiado. Odair saiu para a entrada Vilson Tadei. Casemiro e Newmar, as novidades, saíram-se bem especialmente o primeiro que foi importante na ligação da defesa com o ataque.
Depois de De León obrigar Ado a fazer mais uma boa defesa tentando aumentar o resultado, foi a vez de Paulo Isidoro ter excelente chance. Nos últimos minutos Heber marcou mas o juiz não validou: o centroavante concluiu e Marcão tirou de dentro. Tanto o árbitro como o bandeirinha estavam mal colocados e não deram o gol.

O Placar

1 x 0 — Newmar para o Grêmio aos 13 min. do primeiro tempo. Odair cobrou o escanteio e o zagueiro de cabeça acertou o canto esquerdo do goleiro Ado que falhou, a bola veio de longe.

2 x 0 — Baltazar para o Grêmio aos 3 min. do segundo tempo. A jogada começou com um cruzamento de Casemiro pelo lado direito. Baltazar acertou o travessão do Fortaleza e no rebote, o centroavante marcos o segundo gol gaúcho.” (Zero Hora, sexta-feira, 13 de março de 1981)


Foto: Zero Hora


REABILITAÇÃO NO OLÍMPICO MAS O TIME NÃO DESLANCHOU

Não foi a apresentação que a torcida esperava. Mas a vitória de 2 a 0 sobre o Fortaleza serviu para reabilitar a equipe, que vinha de três derrotas consecutivas. O Grêmio, ontem à noite no Olímpico, voltou a ser um time inseguro, com muitos defeitos. Os estreantes Casemiro e Newmar saíram-se bem e devem ser mantidos por Ênio Andrade para o jogo de domingo, em Limeira. O Fortaleza foi uni adversário fraco, em nenhum momento chegou a ameaçar o bicampeão gaúcho. Com esta vitória e o empate do São Paulo, o Grêmio subiu à vice-liderança no Grupo 1. 

PRIMEIRO TEMPO — Após um início nervoso, o Grêmio, aos 10 minutos, dominava a partida, e tudo fazia prever que venceria fácil, já que o adversário não demonstrava nenhuma qualificação para impedir a derrota. Aos 8 minutos Baltazar atirava para as redes, mas o árbitro anulou o lance, marcando falta no goleiro Ado. Aos 18 minutos, Newmar inaugurava o, marcador, aliviando a tensão da torcida. Tarciso cobrou bem um escanteio da direita, e zaga do Fortaleza confundiu-se e o zagueiro, de cabeça, surpreendeu Ado. A partir daí o Fortaleza abriu-se, dando espaços para as penetrações gremistas, que no entanto não foram aproveitadas, desperdiçando sucessivas chances de ampliar o placar. Aos 30 minutos, o domínio do time  de Ênio Andrade era total, Baltazar, depois de excelente jogada de Isidoro, atirou no travessão. Aos 37 nova chance foi desperdiçada, com Renato Sá arrematando para boa defesa de Ado. Faltou maior tranqüilidade para o ataque do Grêmio. 

SEGUNDO TEMPO — Nos 45 minutos finais a equipe gremista voltou com maior disposição, e logo a 1 minuto Tarciso deixou de marcar o segundo. Na seqüência da jogada, a bola sobrou Para o lateral Casemiro, que lançou paria área, onde Baltazar estava colocado para concluir no paste. No rebote, Casemiro serviu novamente Baltazar que concluiu para as redes, marcando o segundo gol gremista. A partir daí o domínio do time de Ênio Andrade foi total, pois o adversário acabou sendo envolvida, limitando-se a um esquema defensivo paria evitar a goleada. A superioridade do Grêmio foi tão notória que o goleiro Leão, em toda a partida, fez apenas urna defesa. E isso aos 29 minutos, quando Tiquinho, num dos raros ataques do Fortaleza, chutou de fora da área. 

A vitória foi justa, e o resultado de 2 a O não refletiu o domínio do Grêmio, que deixou de aplicar uma goleada no time cearense. 

DETALHES TÉCNICOS 
Arbitragem do paranaense Eraldo Palmerini, com um trabalho apenas regular. Foi auxiliado pelos catarinenses Iolando Rodrigues e Alvir Renzi.” (Correio do Povo, sexta-feira, 13 de março de 1981)

Foto: Correio do Povo


“Jogo ruim onde o Grêmio chutou 27 bolas a gol marcou só duas vezes, prova da fragilidade do Fortaleza e da inoperância do ataque gremista.” (Emanuel Mattos, Revista Placar, Edição n.º 566 – 20 de março de 1981)   






"TARCISO E ISIDORO PEDEM MAIS APOIO

O jogo recém havia terminado e foi o ponteiro Tarciso o primeiro a fazer críticas ao comportamento da torcida do Grêmio durante o jogo contra o Fortaleza. “É uma pena a torcida não ter compreendido e não nos aplaudir nesta vitória muito importante” disse ele. Logo depois foi a vez de Paulo Isidoro desabafar:

— Acho que é bobagem ficar se preocupando com isto. Mas se a torcida não está satisfeita que entre ela em campo e faça o que nós estamos fazendo!

Todos os jogadores sem exceção estranharam as atitudes da torcida impaciente em muitos momentos e inclusive vaiando a alguns jogadores especialmente a Baltazar. Tadei chegou a fazer um apelo dizendo que “este e o início de urna nova etapa onde todos precisam se unir para ajudar o clube”. E o zagueiro Newmar, tentou dar uma pista para o problema: “creio que é uma consequência dos erros nas conclusões” (Zero Hora, sexta-feira, 13 de março de 1981)

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ÊNIO VAI MANTER TADEI NA EQUIPE

Com o resultado de 2 a 0 definido desde o início do segundo tempo, o técnico Ênio Andrade tratou de aproveitar os 21 minutos finais para testar aquela que deverá ser a formação da equipe no jogo contra o Internacional: com Vilson Tadei na meia cancha e Renato Sá na ponta esquerda, saindo Odair.

— O Tadei e um jogador de habilidade e como o Renato faz um trabalho Importante na ligação do ataque com a meia cancha, tornando a equipe menos vulnerável, poderei escalar os dois neste jogo em Limeira.

Enio Andrade diz que estranhou o comportamento da torcida vaiando alguns jogadores em determinados momentos, elogiou o trabalho de Casemiro, e Newmar na primeira partida de ambos na equipe explicando que eles poderão continuar, o mesmo acontecendo com Vilson Tadei. “Com o jogo definido tratei de já ir testando esta nova formação”, disse ele. ” (Zero Hora, sexta-feira, 13 de março de 1981)




RUY CARLOS OSTERMANN: “TORCEDOR E TIME


A indispensável vitória veio. Dois a zero, mas com ela vieram também as situações desperdiçadas, o fracasso do Baltazar para a hora de fazer o gol o a irritação da torcida. Prestei atenção. Uma parte se justifica porque o torcedor exige mais qualidade em campo. Mas outra parte pertence a uma relação conflituada do torcedor com alguns jogadores. O exemplo mais evidente é o de Renato Sá. Jogou relativamente bem, justificou-se. Não é craque mas cumpriu com o seu trabalho, sacrificou-se, enfim, correspondeu. O técnico do Fortaleza, depois do jogo, inocente em relação ao ambiente, disse que número dez do Grêmio é bom demais. E até repetiu para o repórter da Rádio Gaúcha.


Há, portanto, duas coisas: os fatos e as opiniões. Geralmente deveriam estar combinadas mas na avaliação do time de Ênio Andrade não estão. Há queixas, azedumes, ressentimentos interferindo na apreciação do time que está em campo. E estas dificuldades pessoais ficam quase graves quando reaparece o erro demasiado, tão comum com o time do Grêmio. O gol perdido, o chute errado, o passe mal feito, o desencontro irritam muito ao torcedor. O Grêmio vive um momento de difícil aceitação mútua, torcedor e time. O 2 a 0 deveria ter sido quatro ou cinco. E mesmo assim não sei.” (Ruy Carlos Ostermann, Zero Hora, sexta-feira, 13 de março de 1981)


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PAULO SANTANA: “SÓ A VITÓRIA

Se o leitor esperava encontrar aqui, hoje, um espaço de um gremista que iria espanejar-se na alacridade de uma vitória sobre o Fortaleza, enganou-se, pelo que lhe peço desculpas. Acontece que eu não só não gostei do time do Grêmio como também passo a encarar com medo e desânimo a própria classificação, que deveria ser fácil, uma vez que o grupo que tocou ao Grêmio é modestíssimo. Pelo menos o Grêmio venceu a partida, deixando no ar uma esperança de classificação, Mas só resta a esperança. Em matéria de indicio, prova e perspectiva de atuações capazes de levar o Grêmio às finais, aconteceu um desencanto na partida de ontem.

Basta que se diga que o Grêmio teve 27 arremessos a gol no jogo. 27. Isso porque o Fortaleza é um dos piores times brasileiros. Levou 8 a 0 do Flamengo. Daí que o Grêmio teve 27 arremessos a gol. Incrível. Só dois foram aproveitados. O que quer dizer que o ataque do Grêmio teve ontem um aproveitamento de menos de 10%, o que em futebol profissional é inadmissível. Vejam bem, com relação a esse detalhe, basta que se faça um cálculo para que se fique aterrorizado: se ó Grêmio quiser fazer um gol no campeonato nacional, de acordo com os números de ontem, terá que arrematar 11 bolas a gol. Portanto, qualquer equipe média que consiga não permitir que o Grêmio chute 11 bolas a gol, sairá de campo sem levar gol do time de Ênio Andrade. Tal é o horror que nos transmitiu ontem a ineficiência e despreparo do ataque do Grêmio. 

Baltazar chegou ao exagero de errar 9 gols. Errou nove e acertou um. Quando eu dizia, antes do Bira ser operado, que achava o n. 9 colorado melhor que o Baltazar, o Resende, o Bastos, o Bisol e vários acólitos desses três grandes gremistas queriam me matar. Ontem, o Baltazar chutou 9 bolas a gol e cabeceou 3. Fez um gol e errou nove. O mesmo com o resto do ataque do Grêmio ou com China, Casemiro e Renato Sá quando arremataram. Não há time nenhum do mundo que aguente um tal índice de desaproveitamento. Em vários comentários meus às 7 e 40 da manhã na Rádio Gaúcha, tentei fazer ver que o problema do Grêmio não se resume só à meia cancha. É de ataque também. Ontem, esse detalhe ficou terrível e claramente confirmado. Não sabem chutar a gol os jogadores comandados por Ênio Andrade. 

O empate da Inter de Limeira com o São Paulo, ontem, acabou por perigar o horizonte gremista de classificação. Aparentemente e talvez concretamente a partida do próximo domingo, em Limeira, decide a sorte do Grêmio no campeonato nacional. Uma vitória dará ao Grêmio, praticamente, a classificação. Um empate fará do Grêmio ainda candidato. E uma derrota será, talvez, fatal. Como se vê, resta rezar. Porque em três dias o Ênio Andrade não vai conseguir calibrar a pontaria desviada de todos os dianteiros fixos e eventuais. 

Por teimosia, Ênio Andrade, que não deveria ter nenhuma culpa nas más atuações do Grêmio, inscreve-se entre os responsáveis. Ele já tinha sido alertado para o fato que era errado o posicionamento de De León, mais adiantado que o outro qualquer central que jogue ao seu lado. Contra o São Paulo, por esse erro imperdoável de Ênio Andrade, De León chegou atrasado nas três bolas dos três gols de Serginho. Ontem, nos três únicos ataques do Fortaleza, De León assistiu em dois deles o Newmar e o Dirceu a brigar com os atacantes na marca do pênalti. Sabem onde estava De León? Fora da área. Por erro e teimosia de Ênio Andrade, que deveria fazer de De León o zagueiro de espera, aquilo que os antigos chamavam de baluarte. O bom tem que ficar na espera. Era assim com Airton, foi assim com Figueroa. Ênio não vê isso e decreta o seu próprio suicídio.” (Paulo Santana, Zero Hora, sexta-feira, 13 de março de 1981)



JOSÉ ANTÔNIO RIBEIRO – O EDITOR:

“O Grêmio fez dois gol no Fortaleza, errou mais de meia dúzia, apresentou um futebol confuso, chegou até a ser vaiado pela torcida e mereceu nossa manchete: apenas passou por mais este jogo da segunda fase da Taça de Ouro. 

Os repórteres que foram ao Olímpico, ontem à noite, continuaram com a mesma opinião: a equipe realmente não mostra nada que entusiasme. Da defesa ao ataque é um conjunto sem acertos que não responde realmente à pretensão de uma torcida intensamente acenada com a possibilidade de um título brasileiro. 

Assim, os erros de Baltazar, somados aos constantes equívocos de seus companheiros de ataque e ainda auxiliados no afundamento pela completa indecisão de uma meia-cancha sem esquema, levaram a torcida a uma irritação tal que, mesmo na vitória, Paulo Isidoro foi levado a ser extremamente duro nos microfones, ao fim da partida: — Que venham jogar no meu lugar. Disse. O futebol do Grêmio, sua vice-liderança nos números do grupo e a noite no Olímpico estão bem abordados na cobertura.” (José Antônio Ribeiro, Zero Hora, sexta-feira, 13 de março de 1981)






Grêmio 2x0 Fortaleza

GRÊMIO: Leão; Casemiro, Newmar, De León e Dirceu; China, Paulo Isidoro e Renato Sá; Tarciso, Baltazar (Eber) e Odair (Vilson Tadei)
Técnico: Ênio Andrade


FORTALEZA: Ado; Roberto, Marcão, Totó e Roner; Chinesinho, Odilan (Bosco) e Dudé; Mazola, Chico Explosão (Rogério) e Tiquinho.
Técnico: César Morais


Brasileirão 1981 – 2ª Fase – Grupo I – 2ª Rodada
Data: 12 de março de 1981, quinta-feira, 21h00min
Local: Estádio Olímpico- Porto Alegre
Público: 16.044 (14.947 pagantes)
Renda: Cr$ 1.691.630,00
Árbitro: Eraldo Palmerini (PR)
Auxiliares: Iolando Rodrigues e Alvir Renzi (SC)
Gols: Newmar aos 13 minutos do 1º tempo e Baltazar aos 3 minutos do 2º tempo

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